Olho

Por ele se vê os matizes
Quebrados de luz
Um arco-íris
Caindo em vazio molhado
De um azul-acinzentado
Um mar ainda cálido

Quando embranquece
Em perpétua noite
E não esquece
Do tempo em que via
Mas traz o que havia
Em subjetivas linhas.

Ele é porta
É entrada...
...e descoberta

Corta-te; lâmina direta
N'alma oculta
A trincheira é aberta
Te faz de adereços desprovido
Rouba teu esconderijo
Faz revelar-te; qual bicho sem abrigo

Mas guarda-te também
Em teia intricada
Se cautela tens
Mirando de esguelha
Segredando verdade inteira
Deixando escorrer somente o que queiras.

Ele é porta
É saída...
...e mistério.

Amor Por Sofia

Sofia sabe
E por ser sábia, pensa não saber
Pois ninguém antes lhe disse
De onde vem o querer
Mas Sofia pensa
Que por sábia ser
Nada disso lhe pode fugir
E nem tudo daquilo pode ver
Sofia tem ciência
Que nem tudo é fato
Que a loucura desvenda
Se a lógica perde o tato
Mas Sofia sabe
Que tudo se supõe
E pensa saber
Que amar não sabe
E logra-se Sofia
Pois do amor não se conhece
Porém, pelo amor se perde.

Sofia não sabe amar.

Regresso

Se ainda sei cursar a pena

Outrora caída

Deixada de lado

Ressequida

Eu volto

Me aventuro por linhas

Cantando num traço

A saudade tua

A pena outra vez embebida

E o mundo para criar

Num risco incerto

Numa página em branco.