La Fenêtre
Há muito a janela da casa
era a janela do mundo:
do pássaro, a asa
do tempo, o segundo
da música, a rima.
Olhando a vida de cima,
o que não existia, criava.
Nem tinha medo do escuro!
Quando a cortina fechava
espiava o amor por um furo.
Todos os dias eram o mesmo dia,
brincava, dançava, sorria.
E quando dormia sonhava.
Então tudo recomeçava,
pois dentro da casa o mundo todo cabia.
Mas a asa quebrou,
O segundo passou,
A rima cantou.
Da janela fechada
olhava a casa vazia.
Da fronte cansada
Encarava o muro que se desfazia.
E por mais que pensasse, não entendia
Como a vida lá fora
esquecera no tempo
todo o amor que lhe tinha.
(Clarissa Castella)
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