Diálogo Poético

Dúbio Rôto:
Quando percebo as densas nuvens que acercam-me sinto o gosto da uva pisada e envelhecida, entôrpe, me perco ao som das risadas espásmicas vindas das lúdicas “lembranças” de futuros que inventei... Sonhador? Um dia fui. Cumpri o papel de ser logicamente como outros tantos, e raros em admitir, que morri algumas vezes sem nem saber de que lado vinha a lâmina. Agora fico como o mais absoluto e incomum sobrevivente das lúdicas “lembranças”, na verdade são elas que me cercam...

Abóbora:
E essas lembranças que permeiam sobem na pele feito suor, me impedem de ser eu mesma. Tornam o dia mais pesado, como nuvens pra chover, e chove em meus olhos a saudade de ser, embebedam minha aura e dispersam meu prazer...

Dúbio Rôto:
Num salto de soberba, imagino que não estou assim tão preso à elas... sou o mais ingênuo da Terra, logo as risadas voltarão...

Abóbora:
Virão aos lábios como abelhas ao mel... serão doces e suaves, e os farei eternas em minha mente, pra não esquecer como e bom, meu Deus, viver...

Dúbio Rôto:
E como elas são parte do que sou, aprendi a sugá-las entre dentes, sumo-nécta, doce e tênue à minha felicidade, energia da vida... sonhar com o amanhã.

Abóbora:
De olhos abertos ou fechados tanto faz... nessa comoção da vida de leva e traz... jaz aqui o que nada de bem me faz... levo comigo só o que o amor é capaz...

Dúbio Rôto:
Capaz até de me trazer o cheiro daquele anoitecer coberto de uma chuva rala, sem pretensões, que enfim desabou ao tardar àquela hora que nem cogito esquecer o som das gotículas, que de tão juntas faziam estalar aquele escudo que protegia-nos... o cheiro que desnorteia.

Abóbora:
E sem rumo me leva a loucura... por mãos tuas nem atrevo a me mexer... deixo o corpo sentir... sorrir... voar como mariposas à luz... ah essa luz que me conduz... invade-me por inteiro sem medo, só apego...

Dúbio Rôto:
Seguro com minhas mãos e nunca a deixo... Jamais!


(Crissie e Erick Ravane)

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